domingo, 8 de novembro de 2015

O que Roma me ensinou

Roma é uma cidade para se amar. Ela tem um ar romântico e trágico ao mesmo tempo, entende. É um filme do Woody Allen. É linda, apaixonante, amável, mas também é ruínas, é dor, é tragédia, é guerra, é coração quebrado. Roma é uma ironia, oposto, amor e ódio. É transito bagunçado, ruelas tão feias que ficam charmosas, é vespas disputando lugar com pedestres. Roma é incrível.

A minha viagem para a capital italiana já começou curiosa. Conheci um casal maravilhoso no avião. Comecei com pé direito.  Clima absolutamente maravilhoso. Bom, quando se vive em Dublin qualquer 15 graus já é uma festa. Peguei um ônibus até o centro da cidade. De lá andei uns 4 quarteirões até o hostel. Era sexta-feira e eu já via a cidade efervescendo. Chegando ao hostel encontrei a minha flatmate e suas amigas, que estavam viajando pela Europa há duas semanas e a última parada seria Roma. Foi questão de deixar as malas no quarto, retocar o batom e partir para um lugar chamado Campo Di Fiori, o mais badalado de Roma.  Andamos pelo local. Bares, restaurantes, italianos lindos, tudo que eu imaginava.

Sentamos para alguns drinks. Entre cosmopolitans e cervejas já estávamos alegres. O garçom, como um bom italiano, já começou a flertar e perguntar onde iriamos depois dali. Eu falei que não sabia ainda. Ele disse que poderia mostrar um lugar, mas que teríamos que esperar ele terminar e fechar o bar. Fomos pro hostel. Afinal nós tínhamos pouco tempo na cidade e queríamos conhecer muita coisa.

No dia seguinte acordamos cedo porque tínhamos um roteiro difícil. Seria sábado para conhecer Roma e domingo para o Vaticano. Primeira parada: Coliseu. Eu acho que sou uma pessoa muito emotiva, muito deslumbrada porque sempre que chego a uma cidade nova fico super animada. E não foi diferente quando avistei o famoso Coliseu. Não é por ele ser famoso, não é pela foto no instagram. Mas eu penso: Meu Deus, quantos anos têm essas pedras que eu estou pisando agora? Como eu sou insignificante, como não sabemos nada da vida. Penso: Eu jamais poderia morrer sem ver esse lugar. E sinto uma gratidão imensa pela minha vida, pelas oportunidades que Deus me dá e que eu não hesito em agarrar. E meus pensamentos foram assim sábado inteiro. Visitamos tantas coisas. 
Apaixonei-me tantas vezes por lugares, por pessoas, por pizzas, por pastas, por vinhos, por tudo.

A pizza italiana – pelo menos para mim – é a melhor. Massa fina, crocante, recheio simples, básico, maravilho. A cidade cheia de fontes, cheia de artistas. Eu andava por Roma e sentia que me faltavam olhos, nariz para olhar e sentir a cidade em sua totalidade. E também acho que sempre tive professores de história muito bons. Deve ser por isso que toda vez que entrava em um lugar eu sabia a importância que ele tinha. Fique anestesiada quando entrei no Pantheon e sem ar quando admirei a Fontana di Trevi.

Domingo o dia inteiro seria destinado ao Vaticano. Como as meninas chegaram antes em Roma conseguiram uns ingressos para assistirmos a missa (parece que era alguma coisa especial, encerramento de alguma coisa católica. Eu não sei direito – desculpem-me os religiosos). Só sei que a missa seria rezada (quase escrevi facilitada) pelo Papa mais Pop do mundo. O Seu Chico ia aparecer e tudo. Fiquei animada com essa parte, porque sinceramente ir à missa só quando a catequese obrigava. Enfim, às 7h30 já estamos prontas e em direção ao Vatica.

Outro lugar sensacional. A Praça de São Pedro é muito linda. Nós tínhamos convite e estávamos animadas para assistir a missa dentro da basílica. Acontece que não eramos somente nós, havia centenas de pessoas com o mesmo convite. Ninguém era VIP não, todo mundo tinha o tal do convite rosa e a fila estava imensa. Ok, a missa começaria as 10h então teríamos tempo para entrar.

Mochileiro que é mochileiro sempre tem lanche na mala. Uma: para economizar dinheiro. Outra: realmente só para economizar. Nós não tínhamos tomado café. O que justificava nossa sacola com sanduiches, suco e claro uma coca-cola. Sem vergonha alguma, afinal o papa é dessa também gente, começam a tomar nosso café e conversar.

Então acontece algo muito engraçado. Atrás de nós havia uma “comitiva” do Rio de Janeiro. O bispo do Rio e mais uma cambada de mulheres e homens muito bem vestidos. Salto alto e tudo. Uma das mulheres, uma das mais elegantes, diga-se de passagem, falou para o casal: “Essa fila tá enorme, mas não se preocupa não. Nem todo mundo tem o convite rosa. Olha ali na frente. Aquele pessoal ali de tênis e jeans, por exemplo, jamais teria convite rosa”. Brasileiro achando que é exclusivão? Nenhuma novidade. Mas é amadorismo achar que ninguém vai entender português só porque você está em outro país...

Eu arrumei treta com policial no deserto do Saara. Você realmente acha que eu ficaria quieta? Primeiro quem ela pensa que é para falar uma coisa assim? Segundo, como uma pessoa tem coragem de ir à missa, à igreja e julgar os outros de uma maneira tão...tão não cristã?  
Na minha ironia de sempre virei e disse sorrindo: “Nós estamos de tênis e jeans mas nós temos o convite rosa” e balancei o convite no ar. O casal com quem ela estava conversando ficou roxo. Ela ficou sem graça e falou que não era assim, que por exemplo, nós estávamos de bota pelo menos. (SÉRIO, JURO QUE FOI ISSO).

A Mazé, minha flat, estava um pouco afastada da fila porque estava fumando. Ela estava de jeans e tênis e gritou: “O moça, eu to de tênis e jeans mas também tenho o convite rosa”. Nós rimos. A mulher não chegou mais perto de nós. A última coisa que escutamos foi ela reclamando: “Ai, o salto do meu Chanel fica entrando nessas pedras”.

De tênis, jeans ou não todo mundo da fila entrou na basílica. Missa em italiano, latim. Alguns trechos em hindu, francês, espanhol, alemão. Tudo para mostrar que ali todo mundo era bem vindo. Não sei bem... Tenho problemas com igrejas, mas esse assunto é pra outro texto.
A igreja é uma aula de artes, de história. Contribuições de Rafael, Bernini, Michelangelo. Eu ficava olhando para o teto admirada com tanta beleza e pra falar a verdade admirada com tanta ostentação. Eis que começam a entrar uma galera que parecia ser amiga do papa, então todo mundo já tirou as maquinas, celular, tudo. Confesso que até eu já fiquei preparada para ver o Chico. E ele veio. Passou do nosso lado. Quase despercebido. Sem nenhuma roupa diferente. Igual a todos que entraram. Olhos baixos. Rezou a missa. Fez algumas piadas. Gostei dele. Ao final da missa, fez a famosa aparição para centenas de fieis que se aglomeravam na praça. Enfim, as meninas estavam felizes porque tinham ido a missa e agora eu poderia finalmente ir ao que mais me interessava no Vatica: o museu.
E foi lindo. Primeiro porque o museu nunca abre aos domingos. A entrada sempre é bem cara. Mas aquele domingo era o último domingo do mês. E além de abrir é totalmente 0800, isto é, grátis. Mais uma vitória do povo do Paraná.

Existe uma cena do filme Good Will Hunting que traduz o que acontece com as pessoas que se permitem sair da zona de conforto, do aconchego do lar e encarar um estilo de vida totalmente diferente. Na cena Robin Williams ensina Matt Damon sobre a diferença entre conhecer lugares, sentimentos somente com base naquilo que lemos, estudamos e sobre estar, sentir, olhar de perto alguma coisa.

Quando entrei na Capela Sistina só conseguia lembrar-se da cena desse filme, excelente por sinal. Eu passei a vida inteira estudando e me apaixonando por história, por países. Eu nunca me contentei em viver uma vida em um só lugar, conhecer só uma cidade, amar só uma pessoa. Eu sempre quis mais. Roma me ensinou a pensar mais sobre isso.
   
Por que nós passamos nossas vidas nos contentando somente com o imaginário das coisas que realmente queremos conhecer? Eu passei um tempo assim. Não posso falar que passei minha vida inteira imaginando porque minha vida só está começando (espero eu). Quantas vezes assisti filmes de pessoas que largam tudo e vão atrás do que querem. E eu queria. Mas tinha medo. É preciso ter coragem para seguir os próprios sonhos. Foi preciso coragem demais para dizer adeus a minha vida, para vender meu carro, para ir em direção do desconhecido. 

Daqui há poucos meses volto para o Brasil. Provavelmente sem nada. Sem emprego, sem carro, sem plano. Mas volto com muito. Com coisas que realmente importam. Com momentos, com memorias que me fizeram entender sobre o que realmente importa na vida.

E sei que isso vai mudar minha vida para sempre. Hoje eu sei que não preciso de carro, de roupas caras, de festas caras (tem umas baratas bem legais). Hoje todo dinheiro que ganho é destinado para morar, comer e viajar. E sei que não terei mais a ambição que um dia tive ou achei que tivesse. Realmente quem disse que viajar é a única coisa que você compra que te deixa mais rico, estava certo! 



2 comentários:

  1. "E sei que isso vai mudar minha vida para sempre. Hoje eu sei que não preciso de carro, de roupas caras, de festas caras (tem umas baratas bem legais). Hoje todo dinheiro que ganho é destinado para morar, comer e viajar. E sei que não terei mais a ambição que um dia tive ou achei que tivesse. Realmente quem disse que viajar é a única coisa que você compra que te deixa mais rico, estava certo!"

    Tente fazer o caminho de santigo (mesmo que parte dele) e esse último parágrafo do seu texto vai fazer mais sentido ainda. Lá eu tive uma visão clara do que realmente é necessário (pouco) e muitas outras coisas boas.

    Ah! Parabéns pelo blog!!

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  2. Thiago!!! Agora que vi seu comentário. Que alegria ver que você andou por aqui. Eu estava em duvida se fazia ou não p caminho de Santiago. Agora fiquei curiosa! Vou mandar inbox!! Brigada pelo comentário

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