segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

A geração dos perdidos

Mais duas semanas de trabalho. Somente mais nove dias e mais uma vez estarei desempregada. Como essa palavra é pesada para nós, não?  Toda a minha vida eu cresci tendo a certeza de que um diploma me traria um trabalho, que um trabalho me traria uma carreira e uma carreira me traria felicidade.

Alguns dias de depois da minha formatura comecei a me perguntar se aquilo realmente era verdade. Eu encontrei um bom emprego, eu trabalhava, eu tinha dinheiro, certa estabilidade, mas alguma coisa não parecia correta, alguma coisa sempre estava faltando. Um buraco na vida. Criei coragem para seguir meu próprio sonho. Embarquei em uma viagem sem saber o que iria acontecer, sem emprego. Na mala? Somente a vontade de encontrar algo para preencher esse vazio.

Em um mês morando na Irlanda encontrei meu primeiro trabalho. Exatamente o que eu procurava. Trabalho braçal, sem pensar muito, ganhar, juntar e gastar dinheiro com viagens e festivais. No começo houve uma briga interna de ego. Eu? Formada e fazendo isso? Eu tinha que contar para todo mundo que eu estava ali somente por um tempo, que eu? Eu era formada. Então as semanas foram passando e comecei a perceber o quanto ridícula eu estava sendo. As pessoas que trabalhavam a vida toda ali eram meus amigos. Eu era melhor do que eles por ter um diploma e estar ali somente por um tempo? Não. Parei de me referir ao emprego como ‘subemprego’ porque não poderia falar disso dos meus amigos. Parei de me justificar para mim mesma. E dai? Eu sou feliz servindo as pessoas, fazendo café, sanduiche e limpando. E isso me faz inferior a alguém que trabalha em um escritório? Não MESMO.

Os dias vão passando e o Brasil se aproxima. O vazio já começou a aparecer e uma estranha angustia também.  Em meio aos planos da última trip, em meio a todo esse clima de despedida que entrei agora, eu me pego pensando – praticamente todo dia – o que eu vou fazer da minha vida quando voltar? Essa pergunta está me atormentando. Por um lado não posso – e não quero – voltar para a vida antiga que tinha quando deixei tudo que tinha para trás. Aquela vida é antiga e já não cabe mais na Juliana que volta no começo de março. Esses dias ainda me imaginei fazendo as mesmas coisas que fazia e me deu um desespero muito grande.

O medo da volta simplesmente me apavora. Acho que tenho medo de voltar e ficar acomodada.  Há dias tão melancólicos que penso: por que tive a ideia de mudar de vida? Agora parece que nada mais vai me agradar. Parece que nunca mais estarei completa, sempre buscando coisas que não sei bem o que são em lugares ao redor do mundo.

É como se a Juliana que eu costumava ser nunca tivesse existido. É como se eu tivesse nascido aqui, com 23 anos, sem nenhuma bagagem social. Deixando tudo para trás, acredito que deixei até mesmo quem eu era. É um sentimento muito forte e acredito que somente quem passa por essa experiência é capaz de compreender.  Eu me viciei. Eu me viciei em aprender, eu me viciei em coisas novas todos os dias. Eu me viciei em viver fora da zona de conforto. 

O problema que quero discutir não é a minha crise existencial, mas sim o fato de que já não sei mais o que quero fazer com a minha vida. A palavra trabalho/carreira não faz mais sentido. Não como fazia há algum tempo. Cheguei a fazer uma lista: mestrado? Pós-graduação? Multinacional? Concurso público? Abrir o próprio negócio?  A última opção é a que mais mexe comigo, na realidade.

Não consigo mais trabalhar dessa forma engessada que vejo o pessoal trabalhando.  Não estou julgando, mas talvez não seja mais para mim. Tenho conversando com vários amigos e a sensação é a mesma para eles. Eu me formei em jornalismo, por exemplo. Dois anos depois de formada, trabalhando já não me sentia uma. Agora? Menos ainda. E acho isso ótimo. Porque jamais algo que apenas estudei por um tempo pode me definir. Sou muito mais do que ‘jornalista’. Eu tenho capacidade de aprender qualquer coisa e ser qualquer coisa que eu quiser. Sendo Doutora ou servindo café. O que realmente importa é preencher esse vazio.


Acho mesmo que minha geração está perdida. E isso é tão bom. Acho que enfim começamos a perceber que ir para a universidade não é o único caminho para felicidade. Não precisamos nos encaixar porque encaixar não é mais cool. Não para nós. Queremos algo que ainda não sabemos mas parece promissor para mim. 

4 comentários:

  1. Oi Ju! Sou a prima da Ana lembra? Eu já acompanhava sua viagem pelo face e instagram e indo para PG neste carnaval a Ana me falou do seu blog rs! Estou viajando na sua viagem rs, vibrando junto com vc! Não tive a coragem de fazer isso enquanto nova, mas confesso que ainda tenho este sonho, largar tudo e poder experimentar um pouquinho de cada coisa que este mundão tem para nos oferecer. Tenho certeza que esta sua experiência é só o começo. Vc é nova ainda e tem muito pela frente. Eu com quase 50 estou começando a me animar! uhu

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    1. Oi Ana! Claro que lembro de você. Nossa, acredita que só agora fui ver seu comentário. Desculpa mesmo!! Obrigada pelo carinho! Um beijo enorme!!

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  2. Ju, vicia mesmo! ;)
    É difícil encontrar o equilibro... Afinal somos animal sedentário. Vai ver só a sensação de "não pertença" que vai te dar quando chegar ao Brasil e passar a euforia inicial.
    Força! :)

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    1. Filipa!! Nossa, somente agora fui ver seu comentário. Tô no Brasil e sentindo exatamente o que você descreveu aqui. Tá difícil, viu. Muitas saudades. Um beijo enorme!!

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